Skip to main content

XIS PONTO ZERO


                                         XIS PONTO ZERO

1. Os avanços tecnológicos, em especial no domínio da informática, maravilham-nos. E a cada dia que passa, espantosamente, mais se inova, para bem das sociedades, espera-se.
    O desenvolvimento da ciência e a aplicação de tamanhos progressos podem levantar algumas questões: definição de prioridades (investigar o quê) e consequências para a humanidade (benefícios e malefícios).
    As próprias sociedades, por intermédio de variadíssimos organismos, devem vigiar os caminhos seguidos por tantos avanços. Não há outro meio. Esvoaçam zeros...

2. No nosso dia-a-dia já usufruímos de alguns dos efeitos práticos das novas tecnologias: por exemplo, é-nos facilitada a vida para pagarmos impostos, mas para se reclamar um erro ou qualquer prejuízo que nos causem, volta-se ao tempo da ardósia. Ficam os zeros...

3. Ainda agora sucede: um trabalhador despedido recebe um impresso próprio da Segurança Social, já preenchido com os dados que irão ser exigidos, e entrega na Repartição da sua área. É-lhe posto um imprescindível carimbo. Passados uns dias recebe uma carta da mesma Repartição a exigir a declaração urgente de mais dados - que estão no sistema informático. Um armazém de zeros...
    Há, ali, um esquisito "bug" que faz perder uma manhã ou até um dia, caso se esgotem as senhas. Só os zeros não esgotam...

4. Na Caixa Geral de Depósitos (que é o banco público e que mais virado está para o povo) tinham acabado de correr os envidraçados (já passava das três da tarde), e o homem já de certa idade, talvez trabalhador rural, não atinava com nenhuma das máquinas automáticas: nenhum dos papeis que tinha na mão servia. E pedia ajuda: queria levantar apenas cinco euros e não sabia como fazer. Tentara um número, que devia ser o de cidadão eleitor, mas a máquina, desdenhosa, encolheu os ombros. Olhou em volta e reparou que havia pessoas com um cartão plástico na mão; ele tinha um, mas era diferente: o de sócio dos Bombeiros.
    Agora é a mim que pede ajuda, que é pequena: ele só quer levantar cinco euros...
    Perguntei-lhe pela Caderneta da Caixa, que não tinha, mas no pequeno rectângulo de papel (para ele seria o tal danado cartão) tinha escrito uns números de telefone e códigos postais, e a anotação: "a Rita tem a caderneta". A vida cheia de zeros...

5. Gigabytes são muitos. Amanhã serão mais. Pipas de Gigas de bytes. Terabytes.
   Tecnologia 2.0 - o avanço!
   Agora, e antes que nasça o dia, é 4.0 - porque queremos tudo 4.0! Tudo!

6. O homem idoso já não acredita que consiga levantar os seus cinco euros, que estão lá dentro, na caixa automática - a abarrotar de zeros...

Comments

Popular posts from this blog

                                                ESTA É A MINHA PÁTRIA      A edição deste mês da Revista da Armada é dedicada ao 25 de Abril, que este ano comemora os seus 50 anos.      A Revista contém testemunhos de quatro camaradas meus, contemporâneos da Escola Naval, relembrando acções daquela feliz madrugada e dos dias então renascidos.      Agora, mais livres do que sempre foram (que sempre fomos), porque estão Reformados, assinam os seus textos com a anotação "o autor não adopta o novo acordo ortográfico".      E este é o ponto que me leva às considerações que aqui deixo.      As mesmíssimas pessoas, se estivessem ainda integrados num organismo oficial, teriam os seus textos mal escritos, por obediência a uma determinação governamental, ilegal e inconstitucional (está comprovado), como é o (des) Acordo Ortográfico acunhado de AO90.      Só por uma imposição, repito, imprópria de um Estado Democrático e de Direito, e não pelo desenvolvimento natural da Língua sustenta
                            PARLAMENTO EUROPEU E LÍNGUA PORTUGUESA       Sirvo-me de um artigo escrito por Anselmo Borges (padre e filósofo) no "Diário de Notícias" (14.04.2012), no qual me inspiro para destacar dois pontos:      - Vasco da Graça Moura, então director do Centro Cultural de Belém, suspendeu a aplicação do Acordo Ortográfico. Poucos tiveram a lucidez e a coragem de tomar idêntica decisão.      - O actual MNE, e então eurodeputado Paulo Rangel, escreveu: "o gesto no CCB é o início de um movimento, cada dia mais forte, de boicote  cívico a uma mudança ortográfica arrogante e inútil " (sublinhado meu).      Está a decorrer em Lisboa a Feira do Livro, que será aproveitada como montra de vaidades e discursos vazios, enquadrados na campanha eleitoral para as próximas eleições para o Parlamento Europeu. Em tantos discursos de "fervor patriótico" e tantas manifestações de "orgulho português", poderemos esperar que os candidatos ao PE (ao
CINE-TEATRO GARRETT Uma boa notícia que nos dá o «O COMÉRCIO DA PÓVOA DE VARZIM», na sua edição de hoje, 16 de Março de 2006: «as obras no Cine-Teatro Garrett deverão começar em breve. Neste momento o projecto está a ser ultimado e deverá ser levado brevemente à aprovação do executivo municipal (...)». E mais à frente, a mesma voz autorizada do Vereador da Cultura (Dr.Luís Diamantino), diz acreditar «que o Garrett possa estar operacional em finais de 2007»! A mesma notícia termina com um «mimo» oferecido aos poveiros: «a norte do Porto ninguém tem uma fonte de Cultura e isso implicaria que a Póvoa, com o Garrett, se poderia tornar no centro cultural de toda esta região». (a propósito: Vila Nova de Famalicão tem a programação cultural que se conhece, dista uma vintena de quilómetros da Póvoa, e fica a norte do Porto). Vale a pena ler a reportagem oferecida pelo suplemento«Sete» da «Visão», também de hoje, 16 de Março, referindo o Teatro de Vila Real como um caso de sucesso, que consegue