DOIS DEDOS DE CONVERSA
Cruzamo-nos à porta do estabelecimento. E como por vezes sucede entre pessoas educadas, nas hesitações do entra-e-sai, foi o costume: faça o favor; o senhor primeiro; primeiro o senhor; faça o favor.
Parecia contar já uma bonita idade, que se adivinhava pelo rosto cansado, enrugado. Estático, mirou-me através das lentes grossas dos seus óculos, a sondar as lonjuras das memórias e perguntou: "o senhor não é daqui, pois não?"
Não! eu não era dali.
Em geografia simplificada, foi o que lhe disse: "a minha cidade fica a dois ou três concelhos a norte daqui, junto à costa".
"Então somos vizinhos", exclamou com alegria.
Desnovelou a vida: muito novo saíra da terra porque naqueles tempos a vida era difícil, não havia trabalho. Andou e andou...até se cansar. Quando parou, ficou. Até hoje!
E em jeito de despedida, sorridente: "em Setembro vou à minha terra, pelas Festas da Senhora".
Eu sabia, sempre soube, desde a minha infância: as Festas da Senhora são a 7 de Setembro.
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