O ÚLTIMO DOS AFICIONADOS
Terminei a leitura de um livro interessantíssimo (1) que aborda questões que nos podem levar a investigar um campo novo e extraordinário da Psicologia.
São várias as histórias que nos são contadas. Numa delas, a propósito da Guerra Civil Americana, é recordada uma célebre recomendação do Presidente Lincoln dirigida a um dos seus mais brilhantes generais: "cuidado com a imprudência". O general, mais tarde, reconheceu a verdade do aviso: perdeu a batalha porque, num momento crucial da campanha sentiu-se moralmente assustado (e não fisicamente assustado).
É neste contexto que é igualmente referido Hemingway - que muitos consideram que fora um apaixonado pelas touradas -, contando-se o episódio passado com Gallo que, segundo o escritor, "foi o inventor da recusa em matar o touro se o animal o olhasse de determinada maneira".
Gallo terá tido uma carreira longa, com exibições inesquecíveis, e na primeira delas, depois de lutar corajosamente contra o animal, quando chegou o momento da morte voltou-se, de espada em punho, e aproximou-se do touro, que estava parado, de cabeça baixa, a olhá-lo. O toureiro - ou matador - voltou para a trincheira. "Trata dele, Paco", disse a outro matador; "não gosto da forma como ele me olha".
Tal como o general, também o matador Gallo se sentiu moralmente assustado.
Se muitos aficionados tivessem, uma vez só que fosse, de olhar bem nos olhos o touro indefeso, mudariam as suas mentalidades para nunca se sentirem...moralmente assustados!
(1) "Blink!", de Malcolm Gladwell
Comentários
É exactamente isso.
Bastava olharem, olhos nos olhos.
Era devido ao olhar de quem ia morrer, que os carrascos medievais, enfiavam uma carapuça na cabeça dos condenados.
Dizem que esse olhar é terrível!