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UMA ROSA NO DESERTO



                                   UMA ROSA NO DESERTO


     Além do lixo indiferenciado no contentor, deixei ao lado uma caixa com coisas várias, ainda com algum préstimo.

     Angustiou-me o que, de soslaio, estava a ver: uma velhota a remexer no contentor à procura de qualquer coisa para comer. Como uma forte pancada, senti, ali figurado, o peso das injustiças que nos cercam e a revolta contra a desapiedada sociedade, egoísta, que nos cerca e sufoca.

     Uma curta saudação - "boa tarde" - ancorada num sorriso, não negaram uma ponta de orgulho próprio, sinal de quem nunca se vergará até ao fim dos seus dias.

     - Não tem livros, essa caixa? - perguntou.
     - Livros não tem, não.
     - Que pena! Eu adoro ler. Os livros são a minha companhia.

     Uns instantes depois ofereci-lhe um romance. À minha maneira, senti que tinha ganho o dia!

     Entretanto, às portas da grande cidade, que fervilha de gente apressada, há um deserto - com uma rosa! 
    

Comments

Unknown said…
:) Uau!!! Obrigada Cte !
das melhores recompensas que se possa ter ;) o reconhecimento. Obrigada por mais este! de facto, é na partilha que está o ganho.
Pincamentos said…
Gostei, ... como sempre desde o antigo, mas não "velho", "Retrato de um vira lata" (Tridente 1959),
Um grande abraço
Nelson
Muito bom.

Abraço

Nazaré Oliveira

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