UMA ROSA NO DESERTO
Além do lixo indiferenciado no contentor, deixei ao lado uma caixa com coisas várias, ainda com algum préstimo.
Angustiou-me o que, de soslaio, estava a ver: uma velhota a remexer no contentor à procura de qualquer coisa para comer. Como uma forte pancada, senti, ali figurado, o peso das injustiças que nos cercam e a revolta contra a desapiedada sociedade, egoísta, que nos cerca e sufoca.
Uma curta saudação - "boa tarde" - ancorada num sorriso, não negaram uma ponta de orgulho próprio, sinal de quem nunca se vergará até ao fim dos seus dias.
- Não tem livros, essa caixa? - perguntou.
- Livros não tem, não.
- Que pena! Eu adoro ler. Os livros são a minha companhia.
Uns instantes depois ofereci-lhe um romance. À minha maneira, senti que tinha ganho o dia!
Entretanto, às portas da grande cidade, que fervilha de gente apressada, há um deserto - com uma rosa!
Comentários
das melhores recompensas que se possa ter ;) o reconhecimento. Obrigada por mais este! de facto, é na partilha que está o ganho.
Um grande abraço
Nelson
Abraço
Nazaré Oliveira