NOVA PROFISSÃO
Na montra da loja de produtos de beleza e higiene (perfumes, sabonetes e alimentos para gatos), a folha branca A4 anuncia, em letra bem desenhada: "Precisa-se de Colaboradora".
Apenas isso: colaboradora! Mulher, portanto. Para mais informações haveria que investigar, eventualmente, no interior da loja.
Várias opções seriam possíveis, supõe o anúncio:
- Um lugar junto da gerência, colaborando com ela, e a quem daria o saber e experiência adquiridos.
- Conselheira - uma colaboração inestimável - sobre as tendências da moda: novas fragrâncias e raças de gatos.
- Responsável pela gestão dos recursos humanos da loja - colaboração essencial para o elevado padrão de desempenho do pessoal, visando o aumento da produtividade.
- Colaborando na representação da empresa (várias vezes premiada) em eventos de promoção das marcas de excelência que muito contribuem para o crescimento da economia nacional.
- Colaborar na área da fiscalidade, para que tudo bata certo: talvez analisando contratos de compras, guias de remessa, verificando facturas…
Uma colaboradora de alto gabarito, como bem se entende, que o anúncio simples na montra apenas deixava imaginar!
As candidatas foram-se mostrando: obrigatoriamente bem maquilhadas e perfumadas, cabelo arranjado, unhas pintadas.
Admitidas foram duas: uma ficou no balcão, a outra a arrumar prateleiras.
Era este o seu trabalho - afinal eram trabalhadoras - como colaboradoras, a receberem menos que o salário mínimo porque o contrato, se havia, permitia-o. Condições condignas nenhumas, exigência máxima, salário miserável.
Não sendo trabalhadoras - que honra quem exerce uma profissão com proficiência - não há código de trabalho que se lhes aplique nem sindicato que as ajude.
Colaboradoras (que trabalham tanto ou mais que as verdadeiras trabalhadoras) é um nome fino que bem se adequa às vigarices que por aí alastram.
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