FRASES QUE MARCAM
Há frases que percorrem os tempos e são sempre sábias. Porque foram sábios quem as proferiu, ditadas pela experiência ou pelo saber, e não por vaidades ou pelos efémeros lugares de destaque na sociedade. São ensinamentos que tantas vezes servem de guia, sempre que a razão não abunda.
Assistimos, hoje em dia, por tudo e por nada, e por todos os meios, a um rosário de frases feitas sem significação válida. Que não se reflectem como pensamento sério ou profundo ou, no mínimo, exacto. E não havendo possibilidade de escolha na aceitação, são tidas como dogma.
Inválidas, pois!
Apenas dois exemplos, relativamente recentes, de frases ditas por dois altos responsáveis no nosso sistema político: nesses casos, a sua análise aprofundada leva-nos muito para além do valor do seu conteúdo, e isso é o que mais nos deve preocupar.
Nas vésperas de ser eleito Primeiro-Ministro de Portugal, Passos Coelho dirigiu-se ao povo português - ansioso por uma mudança política em que acreditava -, nos seguintes termos:
"Já ouvi o Primeiro-Ministro José Sócrates dizer que o PSD quer acabar com muitas coisas e também com o 13º mês, mas isso é um disparate".
Sabemos o que fez, mal meteu a chave à porta: acabou com o 13º mês e com o 14º mês, e mais outras coisas que, em seu entender, são disparates.
O que devemos então concluir daqui? Aceitar a mentira descarada? Assistir pacificamente à semente da desonestidade? Como podem os cidadãos, a partir desse momento, dar um voto de confiança em qualquer acto político do primeiro-ministro (se não lhes forem dadas verdadeiras razões)?
A propósito de silêncios cautelosamente geridos - quando o discurso teria sido necessário -, o Presidente da República, Cavaco Silva, afirmou publicamente:
"Para serem mais honestos do que eu têm de nascer duas vezes".
E mais não disse, nem lhe foi perguntado!
A frase, bem marcante, encerra dois conceitos: um, o auto-elogio desnecessário sobre a noção de honestidade, que é inquestionável no caso do detentor do mais alto e dignificado cargo da Nação; outro, uma espécie de confronto ou desafio a todos os honestos concidadãos, estes sem meios de prova por não poderem voltar a nascer, e a consideração de uma escala de valores para a honestidade, que não é aceitável.
Foi dito, está dito!
Disseram!
Resta a cada um de nós - os alvos daquelas frases marcantes - fazer o seu juízo.
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