A NOSSA PRAIA
No pequeno espaço de areia que parece mais limpo espetam-se os paus que seguram o guarda-vento, e há um que encontra resistência: é uma fralda rota e suja de criança, ali enterrada na véspera; logo de seguida, alguém mais felizardo, espeta o dedo grande do pé num saca-rolhas, dos grandes, próprio para abrir garrafões. Ainda não se acabou de estender as toalhas de banho e descobre-se um plástico: puxa-se e sai um saco cheio de espinhas de peixe. Dois ossos de costeletas e uma garrafa partida seriam mais tarde descobertos por uma criança que abria um poço na areia.
O repousante passar pelas brasas sob este sol quente de Agosto é cortado por um certo aroma agradável de abrir o apetite; vem da tenda ao lado onde afamília já está reunida para o almoço, que é cozinhado com a ajuda dum fogão alimentado por duas botijas de gás. Para sobremesa pude ver que havia melão para os adultos e melancia para a pequenada; uns e outros, sempre prontos para mais uma talhada, atiravam as cascas para uma pequena cova na areia. No fim, regalado e pronto para a sesta, o mais jovem do grupo precisou que lhe mudassem as fraldas.
No entender desta e de muita outra gente a areia e o mar tudo consomem...
Orgulhosos dos seus uniformes brancos passam os cabos de mar para cobrarem dos veraneantes o imposto pelo abrigo montado no areal sujo, pejado de pacotes de bolachas, de leite, batatas fritas e de cigarros, de embalagens de iogurte e de guardanapos de papel, e ainda de quantidades intermináveis de pontas de cigarro. Um areal imundo que é bem o espelho da falta de cuidado e de interesse aqui posto pelas entidades competentes. Um claro atestado de desleixo e da falta de cooordenação entre a autoridade municipal e a autoridade marítima, ambas por dever interessadas em defender a imagem da Póvoa.
É tão fácil tomarem-se medidas que permitam tornar a praia permanentemente limpa que custa a crer no que os nossos olhos vêm, ano após ano de repetido marasmo. Sabe-se que, duma forma geral, somos avessos ao cumprimento de normas, ainda que criadas para o bem de todos; mas neste ponto não será difícil obrigar as pessoas a seguirem aquilo que achamos ser elementar para a limpeza da praia.
Orgulhosos disso deviam até sentir-se aqueles responsáveis por conseguirem fazer da Póvoa um exemplo por outros depois imitados.
( texto publicado em "O Comércio da Póvoa", no verão de 1982 )
No pequeno espaço de areia que parece mais limpo espetam-se os paus que seguram o guarda-vento, e há um que encontra resistência: é uma fralda rota e suja de criança, ali enterrada na véspera; logo de seguida, alguém mais felizardo, espeta o dedo grande do pé num saca-rolhas, dos grandes, próprio para abrir garrafões. Ainda não se acabou de estender as toalhas de banho e descobre-se um plástico: puxa-se e sai um saco cheio de espinhas de peixe. Dois ossos de costeletas e uma garrafa partida seriam mais tarde descobertos por uma criança que abria um poço na areia.
O repousante passar pelas brasas sob este sol quente de Agosto é cortado por um certo aroma agradável de abrir o apetite; vem da tenda ao lado onde afamília já está reunida para o almoço, que é cozinhado com a ajuda dum fogão alimentado por duas botijas de gás. Para sobremesa pude ver que havia melão para os adultos e melancia para a pequenada; uns e outros, sempre prontos para mais uma talhada, atiravam as cascas para uma pequena cova na areia. No fim, regalado e pronto para a sesta, o mais jovem do grupo precisou que lhe mudassem as fraldas.
No entender desta e de muita outra gente a areia e o mar tudo consomem...
Orgulhosos dos seus uniformes brancos passam os cabos de mar para cobrarem dos veraneantes o imposto pelo abrigo montado no areal sujo, pejado de pacotes de bolachas, de leite, batatas fritas e de cigarros, de embalagens de iogurte e de guardanapos de papel, e ainda de quantidades intermináveis de pontas de cigarro. Um areal imundo que é bem o espelho da falta de cuidado e de interesse aqui posto pelas entidades competentes. Um claro atestado de desleixo e da falta de cooordenação entre a autoridade municipal e a autoridade marítima, ambas por dever interessadas em defender a imagem da Póvoa.
É tão fácil tomarem-se medidas que permitam tornar a praia permanentemente limpa que custa a crer no que os nossos olhos vêm, ano após ano de repetido marasmo. Sabe-se que, duma forma geral, somos avessos ao cumprimento de normas, ainda que criadas para o bem de todos; mas neste ponto não será difícil obrigar as pessoas a seguirem aquilo que achamos ser elementar para a limpeza da praia.
Orgulhosos disso deviam até sentir-se aqueles responsáveis por conseguirem fazer da Póvoa um exemplo por outros depois imitados.
( texto publicado em "O Comércio da Póvoa", no verão de 1982 )
Comentários
iso também já constatei em várias praias da costa verde e deprata..mas o mais nojento da praia da póvoa que tem areia grossa são as pontas de cigarro...
estão por toda aparte.. devua haver umalei que proibisse fumar nas prais..pois são espaços publicos e similares arecintos desportivos.. e amulta deveria ser tão pesada como apassagem de um sinal vermelho ou de um estacionamento num cruzamento...
...e não havia tanto plástico nem outras coisas que por muito tempo se preservam (e preservam...). Os esgotos não eram tantos, e descarados, como hoje.
Naquele tempo, em que não havia blogs, liam-se (eu sei que se liam) os semanários poveiros (não existia ainda o "Póvoa Semanário"), mas nem assim aprenderam as lições os pressupostos responsáveis pelo Serviço Público, desinteressados voluntários para a nobre missão de servir os Poveiros.