O POMAR DAS CEREJEIRAS
Do escritor russo Anton Tchekov (1860-1904) acabo de ler «O Pomar das Cerejeiras», a peça em 4 Actos que retrata o fim da velha ordem semifeudal russa, simbolizada pela venda de um imenso pomar de cerejeiras, pertença de uma família da aristrocacia, então no fim dos seus dias.
Um agricultor que se tornou muito rico, mas que mal sabe ler e escrever, é filho e neto de pobres trabalhadores do campo, que sempre viveram na miséria. Com a sua fartura de dinheiro crê que pode comprar tudo, e com a expressão da arrogância e falta de sentimentos compra o enorme pomar de cerejeiras, o mais bonito do país, para construir no terreno uma urbanização muito rentável; é a sua ambição: ser ainda mais rico!
A peça termina com os antigos donos a partirem e ouvindo-se as portas do solar serem fechadas à chave. Reina o silêncio, e apenas se ouve o som triste dos machados a derrubar as cerejeiras.
Estou na Póvoa e espraio o olhar pela longa Avenida que atravessa a cidade, com mais de uma centena de árvores frondosas, que durante anos e anos nos deram sombra.
Fecho os olhos.
No silêncio da imaginação parece-me ouvir, em ruído de fundo, o matraquear das serras eléctricas a abaterem as árvores da Avenida...
Do escritor russo Anton Tchekov (1860-1904) acabo de ler «O Pomar das Cerejeiras», a peça em 4 Actos que retrata o fim da velha ordem semifeudal russa, simbolizada pela venda de um imenso pomar de cerejeiras, pertença de uma família da aristrocacia, então no fim dos seus dias.
Um agricultor que se tornou muito rico, mas que mal sabe ler e escrever, é filho e neto de pobres trabalhadores do campo, que sempre viveram na miséria. Com a sua fartura de dinheiro crê que pode comprar tudo, e com a expressão da arrogância e falta de sentimentos compra o enorme pomar de cerejeiras, o mais bonito do país, para construir no terreno uma urbanização muito rentável; é a sua ambição: ser ainda mais rico!
A peça termina com os antigos donos a partirem e ouvindo-se as portas do solar serem fechadas à chave. Reina o silêncio, e apenas se ouve o som triste dos machados a derrubar as cerejeiras.
Estou na Póvoa e espraio o olhar pela longa Avenida que atravessa a cidade, com mais de uma centena de árvores frondosas, que durante anos e anos nos deram sombra.
Fecho os olhos.
No silêncio da imaginação parece-me ouvir, em ruído de fundo, o matraquear das serras eléctricas a abaterem as árvores da Avenida...
Comentários
Tenho o ouvido bem apurado; ouço o clamor lúgubre as árvores já condenadas à morte, injustamente.
Assim, aqui vai a MALDIçAO DAS ÁRVORES, no corredor da morte, e sem terem oportunidade de se defenderem, sem terem cometido qualquer crime...
A MALDIÇÃO DAS ÁRVORES
Seres vivos, também somos
Respiramos como vós...
Crianças, também já fomos
Algumas, já são avós!...
Temos netinhos, também,
Porquê morte prematura?
Fizemos mal a alguém?!!!
Mentecaptos sem cultura...
Pacóvios sem instrução
O vosso mal não tem cura
Esse vírus da ambição
Será vossa sepultura!...
Somos pulmão da cidade!
Aval do ecossistema
E fonte de sanidade
Somos jóias em diadema!
O polvo da Macelândia
Connosco vai a enterrar
Reisetes de parolândia
O Povo irá condenar!
Junto da placa de inauguração da obra emblemática de M.Vieira, devia colocar-se o poema «A Maldição das Árvores», como Réquiem pela Avenida e para memória futura.