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Showing posts from 2017
                                    PALAVRAS E SENTIMENTOS      Filho de um agricultor com uma plantação de amendoins, o pequeno Jimmy cresceu num são ambiente familiar, marcadamente religioso, e pobre: a casa onde cresceu não tinha água corrente nem electricidade. Na Geórgia, nos Estados Unidos da América.      A escola abriu-lhe os horizontes que haveriam de o levar a conseguir a concretização do seu desejo maior: ser um Homem!      E conseguiu.      Sempre bom aluno, na universidade seguiu engenharia. Admitido à Academia Naval dos Estados Unidos, terminou o curso entre os dez primeiros, numa longa lista.      Serviu nos submarinos. Mais tarde, entrou na área da advocacia.      Não sendo homem de grandes falas, usava-as com o sentido preciso do juízo e do apreço, com genuíno sentimento, mas nem sempre bem compreendido.      Cumprido o seu dever como militar e tendo dado todo o seu saber ao seu país, deixou a Marinha no posto de capitão-de-mar-e-guerra.      Falamos de

A Saúde dos Outros

                              A SAÚDE DOS OUTROS   1 . Depois da intervenção cirúrgica à outra anca, o prestigioso ortopedista, professor catedrático, elaborou o requerido relatório para avaliação do grau de incapacidade, a ser certificado por uma Junta Médica, como manda a lei. Aplicou-se a tabela em vigor: 65% de incapacidade motora.      Uns anos depois nasceu uma nova versão da lei, neste particular da saúde, com diminuição nos parâmetros, para "maior rigor e transparência". Nova avaliação.      Reunido o trio da Junta Médica (um clínico era muito novo), debruçaram-se sobre o novo relatório, semelhante ao anterior, e após algumas perguntas de circunstância e alguma cogitação, decidiram o novo grau de incapacidade: 62%!      A continuar assim, qualquer dia o utente da saúde ficará em estado de novo e dispensa as próteses!   2 . A professora tinha cancro há alguns anos, e estava a fazer tratamento. Notava-se claramente, e custava-lhe muito ter que enfrentar os seus

COUVES E TRAPOS

                                                                     COUVES E TRAPOS      Tive que esperar largos minutos até chegar a minha vez para comprar selos.  À minha frente estava uma mulher do povo, fortalhaças, vestida de preto, e na casa dos cinquenta.      Era impossível não ver nem ouvir a funcionária dos correios ir contando, e cantando, as notas que ia colocando no balcão: cem, duzentos, trezentos, quatrocentos, quinhentos...      Fiz um esforço para não ouvir mais.      Olhei à volta e calculei, pelo que vi, que devia ser dia de pagamento de pensões.      Curiosamente, àquela mesma hora discutia-se no Parlamento - no nosso Parlamento - a questão ignominiosa dos contratos de trabalho precários e correspondentes vencimentos miseráveis, que atingem milhares de pessoas, muitas delas com formação superior; e, como se verifica, há deputados, alinhados com certo tipo de patronato, que ainda gastam o seu tempo a discutir este problema, que nos envergonha.      Fiqu

ILHA RAINHA

                                    ILHA RAINHA      No vasto Oceano Pacífico, a Sul, o gigante dos mares saltita de ilha em ilha - miríades de ilhas - como se caminhasse sobre as águas.      Antigamente era assim, pensa-se.      Muitas dessas ilhas são desabitadas, umas com vegetação luxuriante, outras nem tanto. Umas com praias de areias douradas, outras com água límpida em recantos entre rochedos.      Antigamente era assim, sabe-se.      Uma dessas ilhas, a ilha Henderson, foi a escolhida pelo bicho-homem para se tornar no maior montão de lixos plásticos à face da terra. Calcula-se que ela contenha 38 milhões de artigos plásticos, que a sufocam.      A ilha é lixo!      Ninguém foi à ilha Henderson depositar o seu lixo. Ele saiu de paragens longínquas - das nossas praias, por exemplo - e foi navegando por mares e oceanos, depressa ou lentamente, porque tem para si todo o tempo do mundo.      Existem no Pacífico muitas ilhas (demasiadas ilhas) de lixo, mas a ilha Hend

146 ANOS DEPOIS

                                  146 ANOS DEPOIS      O circo acabou!      Foi o mais famoso de toda a América: o Circo Ringling Bros.and Barnum & Bailey. Durante um século e meio entusiasmou os habitantes de tantas e tantas cidades, que até então viviam fechados nos pequenos horizontes das suas vidas cinzentas.     Até mesmo os cartazes a anunciar o "Maior Espectáculo do Mundo" começaram por ser olhados com incredibilidade: mulheres de pernas ao léu e homens de tronco nu! E verem-se de perto: elefantes (afinal, eles existiam mesmo...), leões, cavalos, amazonas e trapezistas.      E os palhaços!      Foi sempre um misto de arte e indústria, que ajudou ao desenvolvimento das cidades e criou raízes de cultura. O circo fazia parte da vida das pessoas, e para muitas crianças ele era a porta dos seus sonhos.      Num tempo ainda parado, aquele circo trouxe às cidades uma vida nova e distribuiu alegrias. Com ansiedade se esperava a chegada do circo, para mais uma te