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Showing posts from 2014
                                   TEMPOS  RENOVADOS      Miguel Torga, no "Cântico do Homem", oferece-nos as armas da luta, que não podemos deixar esmorecer: suplica-nos que em cada dia, todos os dias, recusemos o desencanto e se faça com que a confiança perdure, nos tempos que queremos renovados.      Súplica      Não adiem a nova primavera.      Olhem que ramos tristes, os meus braços!      Trinta invernos a fio, e só dez anos      De rosas de inocência e de perfume!      Lume!      Lume é que a vida quer nos ímpetos gelados!      Homens a arder de sonho e de alegria,      Em vez de candelabros de agonia,      Apagados.        Recusa      Convosco, não, traidores!      Que poeta decente poderia      Acompanhar-vos um segundo apenas?      À quente romaria do futuro      Não vão homens obesos e cansados.      Vão rapazes alegres,      Moças bonitas,      Trovadores,      E também os eternos desgraçados,      Revoltados      E sonhadores.     
                                       LUISINHA      Depois da fase  dos caracóis, os cabelos loiros apartavam-se em duas tranças, compridas, com lacinhos nas pontas.      Era a Luisinha das tranças loiras. Assim era conhecida, que o apelido nem contava. Desnecessário.      Enquanto as primas eram mais dadas às bonecas, a Luisinha das tranças loiras preferia brincar com comboios e comandar soldadinhos de chumbo. Se pudesse ir para a tropa, haveria de chegar a general...      Em contas ninguém a batia, e na tabuada era uma admiração: a dos nove, sabia-a de trás para a frente e da frente para trás, rápido e sem uma falha.  Ganhara-lhe o gosto quando começou a ajudar o padrinho nas contas da mercearia, usando a máquina registadora e no cálculo mental dos deves e haveres.      Contabilista haveria de ser o seu futuro. Garantido.      O padrinho, que era regedor, muito gostava de jogar à sueca com a Luisinha das tranças loiras. Esperta que era, fazia-lhe a cabeça num fanico:
                                   POLÍTICOS  E  ANIMAIS      No Parlamento, o PS e o PSD chegaram a acordo quanto à apresentação de uma proposta de lei para a criminalização  de maus-tratos a animais. Isso: animais sujeitos a maus-tratos! Entretanto, o partido "coligado" com o PSD no Governo, o CDS, ficou-se nas encolhas, para marcar posição; ou será que, tal como os partidos da esquerda, não embarcou na hipocrisia dos dois comparsas "amigos dos animais", que toleram e apoiam as touradas, com a tortura pública dos animais?      Ora, se o PSD é a favor da criminalização por maus-tratos, e se o PSD é o mesmo partido político em todo o país, custa a compreender como pode a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim  - PSD de cima a baixo -, governada por dois militantes politicamente devotos, e deveras empenhados na Cultura e no Turismo, apoiar e patrocinar a realização de touradas na cidade!      Os maus-tratos, para que se saiba, são crimes públicos.      Não est
                          A  ÓPERA  FOI À  TOURADA (Nota: este texto, escrito em 14Jun96, foi publicado no "Comércio da Póvoa", em 18.07.1996)      Segui, ansioso, e tanto quanto me foi possível, a azáfama dos operários em redor da decrépita Praça de Touros. Com paciência e carinho eliminaram eles os amontoados de terra, cavaram o terreno para prepararem plataformas amplas, lisas e bem desenhadas, aptas para o escoamento rápido das chuvas nos tempos invernosos. Lentamente e com arte burilaram as pedras grandes de granito a formarem uma ala larga, provavelmente para a entrada das pessoas em massa. Por último, vi nascer a relva verde a alindar o local e as árvores a crescerem, prometedoras de sombras.      Finalmente! Dera-se início, começando pelo arranjo exterior, à tão desejada transformação da Praça. Isto pensei eu, mas talvez me tenha enganado. E como confesso desconhecer os planos urbanísticos para aquela área (e devia conhecê-los), não sei se, vendo passar o tempo
                                       A ILEGALIDADE      Portugal é uma República.      A República Portuguesa é um Estado de Direito Democrático, diz o Artº 2º da Constituição, construído na base de diversos princípios, de entre os quais se salienta a "separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa".      Já para não falar doutros, estes princípios não têm vindo a ser cumpridos: factos são factos!      E assim sendo, a democracia que dizem ser o nosso sistema político, está ameaçada, por mais que o contrário se apregoe e isso nos custe.      A Assembleia da República - o órgão legislativo onde é suposto estar o Povo representado - dá a entender que " o Estado se subordina à Constituição e funda-se na legalidade democrática " (nº 2º da CRP).      A prática mostra, porém, que o Parlamento, regido por uma maioria negociada por interesses partidário
                      O  BARCO  DA  LOUCURA      Aquilo que se vinha lobrigando, ao longe, na linha do horizonte, acaba de fundear nas águas lodosas do grande rio, em frente ao nobre casario: é o barco dos piratas loucos!      A tripulação é ignorante e doida: não tem os conhecimentos nem as práticas de mareante, e não segue os regulamentos ditados por regras antigas. Sendo muito mais perigosos e indisciplinados do que aqueles que, há séculos, eram punidos com a severidade do chicote, merecem agora diferente e rigoroso julgamento - sem sombra de perdão!      O barco louco tem andado à deriva, tresmalhado da frota!      As populações sobressaltadas, sentem-se indefesas perante os ataques dos piratas enlouquecidos, que não obedecem a nenhum qualquer rei ou vice-rei, cuja existência aliás se desconhece.      Não havendo desânimo, talvez se consiga, pela calada da noite, cortar as amarras do barco dos piratas loucos: antes do nascer do sol já ele terá passado a barra, que é a
                                POLITIQUEIROS      A Política é uma arte.      E pode também ser uma ciência - a ciência Política -,uma actividade humana que tem como objectivo o exercício do poder no Estado. É para cumprir tal desígnio que se propõem os políticos.      Há, na ciência política, um pressuposto importante: o homem apenas vive em sociedade, e por isso cada homem partilha com os seus semelhantes um interesse comum.      Estes princípios só resultam quando assentes num elevado espírito de cidadania e vividos num ambiente ético.      Mesmo assim, nunca será tarefa fácil o exercício do poder!      Muitos dos agentes políticos perdem tantas vezes a noção das suas responsabilidades (se é que alguma vez a tiveram), que passam a actuar como tresloucados políticos.      Sem estatura moral.      Sem ética.      Sem opinião própria e incapazes de se justificarem.      Vendidos.      Esquece-se tal gente de três coisas fundamentais: o cumprimento das obrigações assu
                                       SOBRE  VEIGA  SIMÃO      Licenciado em Ciências Físico-Químicas (Universidade de Coimbra) e doutorado em Física Nuclear (Universidade de Cambridge), aos 32 anos de idade já era professor catedrático em Coimbra.      Estamos a falar de Veiga Simão, que faleceu recentemente, aos 85 anos de idade.      Bastante novo ainda, foi reitor da Universidade de Lourenço Marques, que criou, no início da década de 60. No tempo da ditadura!      E foi ainda na vigência do antigo regime político que assumiu a pasta da Educação, tendo proposto as bases da chamada "Reforma Veiga Simão", assente em duas vertentes: Projecto do Sistema Escolar e Linhas Gerais da Reforma do Ensino Superior.      Alguns bons ministros da Educação, que lhe sucederam, souberam enaltecer o trabalho desenvolvido por aquele que consideram ter sido o melhor ministro de tão importante área, agora espezinhada e em continuado declínio. A alguns dos que lhe seguiram em semelha
                      IGUALDADE  E  SAÚDE      Dados comprovados por investigadores mostram que a saúde piora à medida que se vai descendo os degraus na escala social.      Numa sociedade bastante desigual, a classe média será formada por indivíduos relativamente saudáveis face aos seus semelhantes pobres, que serão pouco saudáveis. Os ricos, no topo da escala da sociedade...gozam de rica saúde!      A desigualdade afecta gravemente os níveis de problemas sociais e de saúde duma sociedade - entranha-se na pele! Entristece-nos a alma! "Uma alma triste pode matar-nos mais depressa do que um micróbio" (John Steinbeck).      Reconhecemos facilmente que a desigualdade numa sociedade é corrosiva. Em muitos aspectos. E uma das causas que mais contribui para aumentar uma tal corrosão social é a distribuição injusta dos rendimentos: os elevados ganhos imorais dos que têm, quase como único esforço, o "trabalho" de arrecadarem grande parte dos poucos proventos d
     O  ESTADO  EM  QUE  VIVEMOS (III)      De uma forma geral, os governos não têm desempenhado bem as funções que lhe são atribuídas, e a cujo cumprimento prometeram (juraram) dedicar todas as suas capacidades, e servir com lealdade o país e os portugueses.      Actualmente, os dois partidos políticos que suportam o governo, formando uma maioria parlamentar, dão cobertura a iniciativas anticonstitucionais para conseguirem atingir objectivos que não são os legítimos interesses do povo.      O Parlamento falha, pela acção concertda da tal maioria, a sua principal missão: fiscalizar os actos do Governo.      O Governo desrespeita a Constituição da República, e não actua na legalidade democrática!      E uma das evidências tem sido a acção do Tribunal Constitucional, que, por definição, é o tribunal ao qual compete especificamente administrar a justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional. Nas contrariedades sofridas pelo TC  - nas poucas vezes em que foi solicita
           O  ESTADO  EM  QUE  VIVEMOS (II)      Vimos, no último texto, quais são as Tarefas Fundamentais do Estado, que teriam de ser cumpridas, sem qualquer desvio, para se obedecer à Constituição.      Que isso não tem acontecido, já o sabemos.      Para por em prática aquelas Tarefas do Estado, elege-se um Governo - que é, por definição, o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da Administração Pública (Art. 182º da CRP) -, o qual segue uma orientação definida e aprovada, segundo um programa político.      Dar-lhe cumprimento é a sua missão . A isso se compromete o Governo .      O Estado tem, obviamente, necessidades financeiras que devem suportar os custos das medidas políticas introduzidas. Criou-se, para isso, o Sistema Fiscal e Financeiro , que exigirá uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza.      A participação dos cidadãos, neste processo de contabilidade pública, é feita por intermédio do pagamento de impostos. Cada um pagar
       O  ESTADO  EM  QUE  VIVEMOS (I)      Este não é o Estado que criámos, nem é o Estado que desejamos. As condições para um bom Estado foram lançadas, mas com o passar do tempo, tudo, ou quase tudo, se alterou - piorando!      Para o Estado minguado que agora somos, apontam-se, entre tantas razões (de origem interna), a impreparação política, a incompetência, o partidarismo, a luta desenfreada pelo poder, a ausência de ética, a honra ferida, a ganância, a desonestidade, a corrupção. Numa palavra: a falta de sentido de Estado! de sentido patriótico! e de muitas outras faltas, como a solidariedade, a igualdade, a fraternidade.      Sem respeito pela História e sem respeito pelas pessoas - sem patriotismo -, as irresponsabilidades varridas pelos dias vêm conduzindo à perda de soberania e à destruição da democracia.      Mesmo assim, este é o nosso Estado, um Estado de Direito e Democrático, como se apregoa. Tenho dúvidas que assim seja!      Para que o fosse, teria qu
                                            O  POVO  UNIDO... "Jamais será vencido, o povo unido", foi cântico de júbilo, autêntico; foi o sinal do caminho por onde passaria a empresa de construir um futuro - melhor futuro -, merecido. Isso aconteceu há 40 anos! Das trevas saíram abutres, que cresceram e se multiplicaram. Agrupados em seitas, para melhor reino. E, por causa deles, dos bichos, já o cântico não se escuta... O Governo, sem governo, acentua sem cessar as gravosas e gravíssimas medidas que a quase todos sufoca, as quais incidem com particular violência sobre os militares, mas também sobre os restantes servidores do Estado, e com requintes de crueldade assassina os pensionistas e os reformados. A "ordem" poderá ser parcialmente reposta pelo Tribunal Constitucional, a quem foram enviados vários pedidos de fiscalização sucessiva de normativos da Lei do Orçamento de Estado 2014, que integra atentados contra a devida confiança que o Estado tem de